Faz um ano que uma Âncora de navio de dois metros de altura foi retirada do fundo do mar da lagoa Santo Antônio dos Anjos, nas proximidades da antiga fabrica de arroz Zilmar.
A âncora ainda não foi exposta nem tem definição de qual será seu uso. A retirada foi autorizada pela prefeitura e ocorreu por interesse de uma empresa especializada na busca por artefatos marítimos, porém, não houve comunicação prévia ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como determina a lei.
Diante disso, o órgão interviu na situação e, em reunião, foi definido que o objeto ficaria sob a guarda da Marinha do Brasil, através da Delegacia da Capitania dos Portos, cuja sede fica a poucos metros ali.
Segundo a arquiteta Ana Paula Cittadin, chefe do Escritório Técnico do Iphan (Etec-Iphan), a âncora segue guardada na unidade militar. “A prefeitura, no ano passado, demonstrou interesse em expor a âncora, só que não ficou definida onde ficaria exposta. Tinha duas opções: uma delas na parte interna do Mercado Público e outra naquele terreno vazio onde iriam fazer uma praça”, comenta.
Em agosto de 2020, a prefeitura recebeu da Secretaria de Patrimônio da União (SPU) cessão de uso para o terreno ao lado das ruínas da Arroz Zilmar. À época, o então prefeito Mauro Candemil (MDB, 2017-2020) contou a ideia de expor a âncora no espaço que se tornaria um parque público.
De acordo com o secretário de Planejamento Urbano, Marcus Paulino Teixeira, que esteve na gestão de Candemil e segue no governo de Samir Ahmad (PSL), a ideia de expor o objeto histórico no local continua apenas em uma sugestão. Isso porque, a prefeitura trabalha, primeiro, na obtenção do Registro Imobiliário Patrimonial. Após esse trâmite, é que será realizada a confecção de uma planta arquitetônica para um parque ou não.
Vestígios como esse não são incomuns
Ao Portal, o arqueólogo Alexandro Demanthè, especialista em Arqueologia Subaquática, explicou na época que, apesar de chamar a atenção pelo tamanho, o achado não é incomum considerando que ali aportavam navios.
“Nesses locais, chamados de sítios depositários, locais onde aportavam embarcações, mais comum que uma âncora é encontrarmos elementos do cotidiano dos ocupantes das embarcações, como garrafas, pratos quebrados etc”, comenta o especialista.
Segundo Demanthè, as âncoras pelo valor econômico não eram dispensadas. “Acidentes de trabalho ou desgaste das âncoras podem ser um dos motivos para o descarte”, aponta. Até meados do século XX, havia um depósito de carvão e diversas embarcações atracavam em Laguna, que era um importante centro comercial do Sul catarinense.
Cinco anos atrás, durante obras de revitalização do Centro Histórico para implantação de sistema de saneamento, outros achados chamaram a atenção. Os trabalhos de escavação, por estarem em um sítio arqueológico, foram acompanhados por arqueólogos e especialistas de empresa particular contratada para esse fim.
Uma galeria subterrânea que conectava a Fonte da Carioca a um chafariz localizado em frente ao primeiro mercado foi redescoberta. Quando foi encontrada, ainda transportava água cristalina. Próximo das docas, os operários recuperaram uma âncora com corrente, garrafas de vinho, pedaços de cerâmicas, xícaras e pires.
Entre um desembarque e outro, era comum que os passageiros se desfizessem de objetos quebrados e também das garrafas de vinho vazias. O gesto também era repetido pela população local que utilizava a lagoa para descarte. Isso caracteriza o local como um ‘sítio depositário’.
Créditos a : Agora Laguna