A explosão em Beirute, no Líbano, trouxe lembranças aos moradores de São Francisco do Sul, no Litoral Norte catarinense, do dia em que uma fumaça tóxica invadiu a cidade, em 2013. O caso ocorreu após uma combustão ocorrer em uma empresa de fertilizantes, no bairro Rocio pequeno.
Não só a fumaça semelhante chamou a atenção, mas também o tipo de elemento envolvido nos dois episódios: o nitrato de amônio. O elemento é um sal inorgânico, inodoro, oxidante e com uma dissolução bastante endotérmica, ou seja, que absorve calor.
Ele é usado em herbicidas, inseticidas, fertilizantes e como oxidante em foguetes e explosivos.
Apesar das semelhanças, um fato principal diferencia o acidente tóxico brasileiro do libanês: por quê em um caso explodiu e o outro não?
“O que diferenciou o caso de São Francisco do Sul do que ocorreu em Beirute foi a quantidade estocada e a presença de duas substâncias: o nitrato de amônio junto com o cloreto de potássio, esta última uma substância inerte, que pode ter diminuído o potencial explosivo”, explica o doutor em Química e professor da Udesc, Fernando Xavier.
A quantidade em São Francisco do Sul de nitrato de amônio era de 10 toneladas. Já em Beirute, eram mais de 2,7 mil toneladas.
O vapor com cores avermelhadas também é uma imagem que chama atenção em ambos os acidentes. Segundo Fernando, provavelmente, as duas fumaças possuem a mesma composição química da decomposição do nitrato de amônio.
Os riscos do nitrato de amônio
Segundo Fernando, o nitrato de amônio não é em si tóxico, podendo ser tocado e manuseado. Porém, o grande problema da substância é sua ação oxidante, por isso é preciso tomar cuidado com as condições de armazenamento.
“É preciso evitar qualquer ponto de aquecimento e contato direto com qualquer matéria orgânica, como plástico, porque ele pode reagir. Mas é preciso, principalmente, evitar calor. Por exemplo, um pequeno incêndio pode gerar um ponto de calor mais forte e isso gerar uma explosão”, conta.Outra questão apontada pelo professor é que o nitrato de amônio tem uma grande velocidade de detonação.
“Nos vídeos [sobre Beirute] fica bem claro aquela coluna de fumaça muito parecida com São Francisco do Sul. E alguns segundos depois, há uma onda de choque, que forma uma espécie de cogumelo. Isto mostra que houve uma.
Em nota, Cláudio Santos, um dos proprietários da empresa do acidente em São Francisco do Sul, os produtos que causaram a fumaça de São Francisco do Sul e os da explosão de Beirute são diferentes.
Segundo ele, os utilizados na cidade são aprovados pelo Ministério da Agricultura e à base de cloro, diferente da capital do Líbano, que é puro. O empresário também informou que as atividades na empresa são todas regulamentadas e não oferecem risco de explosão.