"Serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça erguida", disse Doria em um pronunciamento feito em suas redes sociais.
Apesar de ter vencido as conturbadas prévias do seu partido para ser o nome do PSDB para a próxima disputa para eleição presidencial, Doria enfrentava forte resistência dentro da legenda devido aos altos índices de rejeição e o desempenho tímido nas intenções de voto nas pesquisas recentes.
"O Brasil precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos. Que não querem aquele que foi envolvido em escândalos de corrupção. E nem aquele que não deu conta de salvar vidas, não deu conta de salvar a economia e que envergonha nosso país em todo o mundo", disse ele em seu discurso.
A decisão de Doria teria sido tomada após o anúncio feito pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de que permaneceria no PSDB. Foi interpretada como uma nova tentativa de Leite de construir sua candidatura à Presidência, apesar de ele ter perdido as prévias do PSDB para Doria no ano passado.
"Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever cumprido e missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção. Saio com o sentimento de gratidão e a certeza de que tudo o que fiz foi em benefício de um ideal coletivo, em favor dos paulistanos, dos paulistas e dos brasileiros", afirmou Doria em outro trecho de seu discurso.
Além disso, Doria não vinha conseguindo aumentar suas intenções de voto, de acordo com as pesquisas. Levantamento divulgado na semana passada pelo Datafolha mostrava o pré-candidato com 2% da preferência dos entrevistados.
"Saio como entrei na política: repleto de ideais, com a alma cheia de esperança e o coração pulsante, confiante na força do povo brasileiro que têm fé na vida e em Deus. Peço desculpas pelos meus erros. Se me excedi, foi por vontade de acertar. Se exagerei, foi pela pressa em fazer com perfeição. Se acelerei foi pela urgência que as ações públicas exigem", disse Doria.
Corrida pelo governo
Além da corrida pela Presidência, especialistas afirmam que a disputa pelo governo de São Paulo é uma das mais impactadas pela saída de Doria. Isso porque há pelo menos dois cenários possíveis.
Em um deles, Doria se mantém no governo de São Paulo, mas não disputa a reeleição. No outro, ele continua no governo e disputa a reeleição, rompendo um acerto com seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), que é pré-candidato ao governo de São Paulo.
No cenário em que Doria fica fora da disputa ao governo paulista, o principal beneficiário, segundo os especialistas é o ex-ministro da infraestrutura Tarcísio de Freitas.
Isso ocorreria porque, se Doria continuar no cargo, o vice-governador Ricardo Garcia (PSDB) não estaria no comando do governo durante a disputa, algo que os especialistas afirmam que seria prejudicial para a sua campanha. E com Garcia com menos "poder de fogo", a candidatura de Tarcísio de Freitas poderia herdar esses votos.
Pesquisa realizada pela Quaest/Genial e divulgada no dia 17 de março mostra o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) com 24%, o ex-governador de São Paulo Márcio França com 18% e Tarcísio com 9%. Rodrigo Garcia aparecia com 3%.
"Do ponto de vista de São Paulo, uma saída de Doria dificulta a vida de Rodrigo Garcia porque ele seria mais competitivo se estivesse na cadeira de governador. Pense em Márcio França em 2018. Ele não teria tido o bom desempenho que teve se não estivesse comandado o governo", explica Antônio Lavareda.