Focos de incêndios e alertas de desmatamento estão concentrados nas mesmas áreas da Amazônia

É verdade que estamos encarando uma situação alarmante e todos que se preocupam e ficam aflitos estão corretos. Porém os incêndios na Amazônia, que tem movimentado o cenário político e ambiental nas últimas semanas, não são exatamente o tipo de desastre que aparentam ser. Diferente das queimadas que acontecem no Cerrado ou em outras regiões de clima mais seco, onde a propagação do fogo é mais rápida, o clima úmido da região amazônica não favorece o surgimento de incêndios naturais. Os incêndios que acontecem anualmente são causados pelo avanço do desmatamento ilegal, mudanças climáticas e uso irregular de fogo na agricultura, baseado numa visão de que é preciso converter a floresta para gerar riqueza.

Para entender melhor o cenário, uma análise da The Nature Conservancy (TNC), com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) coletados entre janeiro e agosto de 2019, cruzou as informações de alerta de desmatamento e focos de calor. O estudo constatou que grande parte dos atuais incêndios florestais na Amazônia estão se apagando sozinhos, em cerca de 3 dias, e estão concentrados em áreas específicas, onde existem muitos alertas de desmatamento. Então nem toda a Amazônia está em chamas. Os focos de calor e alertas de desmatamento estão concentrados especialmente em áreas onde tradicionalmente ocorrem disputas territoriais. São locais onde é extremamente necessário que os problemas fundiários sejam solucionados para que as propriedades rurais possam ser regularizadas legalmente e ambientalmente.

No Pará, por exemplo, mais de 90% dos focos estão em 3 municípios com um grande histórico de desmatamento e onde existe resistência às áreas protegidas, como Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs).

Mas a estação seca ainda continuará por alguns meses, portanto é importante considerar a causa dos focos e pensar em ações preventivas de curto e médio prazo.Estudos científicos apontam que existe um limite de perda da cobertura florestal da Amazônia, e ao passar desse limite é possível que a dinâmica de chuvas seja alterada permanentemente, transformando a região em uma grande savana, ao invés de uma floresta tropical úmida. Além da perda de biodiversidade, isso afetaria drasticamente o papel essencial da Amazônia na estabilidade do clima mundial, influenciando também em uma redução da produtividade agrícola do Brasil. Esse limite pode não ser determinado com exatidão, mas dado o enorme impacto possível, um número cauteloso de 20 a 25% de perda da cobertura é sugerido. Assim, qualquer iniciativa que vise o desenvolvimento socioeconômico na região deve estar desvinculada do desmatamento.

Acreditamos que para combater o desmatamento e trabalhar pela conservação de uma região tão vibrante precisamos de uma abordagem complexa e diversa.  Por isso a TNC trabalha na Amazônia em parceria com organizações indígenas, produtores rurais, governos, ONGs e setor privado em iniciativas que ajudam a proteger a floresta, incentivar cadeias produtivas sustentáveis e restaurar áreas degradadas. Esse esforço faz parte de um esforço para construir uma visão compartilhada para o desenvolvimento da região, incluindo os setores públicos e privados em uma discussão para conciliar atividades econômicas com a proteção da natureza.

É possível aumentar a produtividade sem a necessidade de desmatar mais áreas, como atestam as iniciativas que desenvolvemos em parceria com grandes empresas, produtores e governos para consolidar cadeias de produção de soja, carne e cacau. Os povos indígenas e Unidades de Conservação de uso sustentável não devem ser tratados como uma barreira ao desenvolvimento do Brasil. Precisamos reconhecer seus direitos, sua diversidade e sua importante contribuição em manter a viabilidade da floresta, entendendo que existem opções de atividades econômicas nessas áreas capazes de atender as necessidades das comunidades e oferecer oportunidades de novos negócios sustentáveis, sem desmatamento. Para proteger a biodiversidade e enfrentar às mudanças climáticas precisamos trabalhar em larga escala entendendo a urgência de proteger a Amazônia para o bem dos seus povos e do planeta. A floresta precisa ficar de pé.

 

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