O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste sábado (22/4) em Lisboa que "nunca igualou" Rússia e Ucrânia, e que "todos achamos que a Rússia errou ao ter invadido a Ucrânia".
"Nunca igualei os dois países. Todos nós achamos que a Rússia errou por ter invadido a Ucrânia. A guerra entre Rússia e Ucrânia não está fazendo bem à humanidade. E está fazendo mal até no Brasil. Quero escolher uma terceira via, para a construção da paz", disse Lula a jornalistas no Palácio de Belém, residência oficial do presidente português.
Lula já havia condenado no início desta semana a invasão russa à Ucrânia em encontro com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, em Brasília.
Mas a fala deste sábado contrasta com declarações que ele próprio deu recentemente, equiparando Rússia e Ucrânia e atribuindo aos Estados Unidos e União Europeia o prolongamento do conflito. O petista lembrou que o Brasil votou na ONU (Organização das Nações Unidas) para condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia, assim como Portugal. E reafirmou o compromisso de seu governo de buscar uma solução pacífica para o conflito.
"O Brasil quer encontrar um jeito de estabelecer a paz entre Rússia e Ucrânia. O Brasil quer encontrar um grupo de pessoas que se disponha a gastar um pouco do seu tempo para alcançar a paz. A Rússia não quer parar, a Ucrânia não quer parar. Precisamos encontrar um grupo de países para sentar à mesa e conversar para encontrar um resultado muito melhor", disse.
Questionado, no entanto, por uma jornalista de Portugal se ainda sustenta que a União Europeia colabora para a manutenção do conflito, Lula afirmou que "se você não faz a paz, você contribui para a guerra".
Sobre se considera uma viagem a Kiev após convites de autoridades ucranianas, o petista disse que não viajou à Rússia, nem a Ucrânia. E que só vai aos dois países quando houver uma possibilidade concreta para a paz.
"Só vou quando efetivamente houver a possibilidade de um clima de construção de paz", disse.
Lula decidiu enviar o ex-chanceler Celso Amorim, atualmente assessor especial da Presidência, à Ucrânia.
A informação sobre o envio de Amorim a Kiev foi dada a jornalistas na noite de sexta-feira, dia 24 de abril, pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, depois de ele se encontrar com representantes da Associação dos Ucranianos em Portugal.
A entidade escreveu uma carta de protesto pelas falas de Lula,
No documento, os ucranianos dizem que as declarações do presidente brasileiro "nos deixaram muito preocupados e apreensivos".
"Consideramos que qualquer tipo de apoio que o Brasil possa conferir à Federação Russa será desprestigiante, levará a uma desconfiança da comunidade internacional, incluindo acerca da sua posição no Conselho de Segurança da ONU", diz a carta.
"Ninguém quer ver o bom nome do Brasil, enquanto nação democrática e livre, manchado como aliado do regime criminoso do Kremlin, pelo que as recentes declarações de Vossa Excelência nos deixaram muito preocupados e apreensivos".
Lula está em Portugal em viagem oficial. Ele permanece no país até terça-feira (25/4). Em seguida, vai à Espanha, de onde volta ao Brasil na noite de quarta-feira (26/4).
Neste sábado, ele foi recebido com honras militares no Mosteiro dos Jerônimos pelo presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e participou de uma cerimônia de deposição floral no túmulo do poeta Luís de Camões, que está enterrado no local.
Em seguida, teve encontros com Sousa. Depois, vai almoçar com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e mais tarde vai abrir a 13ª Cúpula Brasil-Portugal, a mais importante entre os dois países, que já não acontece há sete anos.
Na sequência, participa da cerimônia de assinatura de atos nas mais diversas áreas, como energia, geologia, produção audiovisual, turismo, saúde e direitos humanos.
Fonte: BBC News Brasil