Autoridades da Turquia e da Síria informaram na noite de segunda-feira (06/02) que já passa de 3.600 o número de mortos pelo terremoto que atingiu na madrugada uma região de fronteira entre os dois países.
O tremor de magnitude 7,8 na escala Richter sacudiu o sudeste da Turquia e o noroeste da Síria. Na Turquia, foram confirmadas 2.316 mortes, além de pelo menos 1.300 mortes na Síria. O número de vítimas deve aumentar nas próximas horas. Milhares de pessoas também ficaram feridas.
O abalo ocorreu às 4h17 (horário local) e seu epicentro foi próximo à capital da província de Gaziantep, um importante centro industrial no sudeste da Turquia. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o epicentro ocorreu a uma profundidade de 18 quilômetros. O terremoto inicial foi seguido por dezenas de réplicas, incluindo um tremor de magnitude 7,5.
O fenômeno também foi sentido na capital turca, Ancara, no Líbano, no Chipre e até na capital egípcia, Cairo. Milhares de edifícios desabaram em uma ampla área de centenas de quilômetros, desde o norte da Síria – palco de uma guerra civil há quase 12 anos –, em cidades como Aleppo, até o sudeste da Turquia, onde foi afetada a maior cidade da região, Diyarbakir. Equipes de regaste buscam por sobreviventes nos escombros
A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que o número de mortos deve subir significativamente devido à grande quantidade de prédios danificados. O representante regional de emergência da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Rick Brennan, afirmou que a agência da ONU enviou reforços para sua equipe em Gaziantep e disse que os trabalhos de resgate foram prejudicados pelos tremores secundários.
Sobre a Síria, Brennan afirmou que o terremoto é mais uma tragédia que se soma à crise humanitária que atinge o país, que enfrenta graves problemas econômicos e um surto de cólera. "A convergência de todas essas crises está causando um enorme sofrimento."
Sob controle do regime sírio, a cidade de Aleppo registrou vários tremores secundários. A DW conseguiu falar por mensagens de WhatsApp com uma moradora de 30 anos que não quis citar o nome por questões de segurança. "A maioria das pessoas que estão ajudando a retirar as pessoas dos escombros são civis. Grande parte não tem formação para fazer trabalho de resgate. É muito perigoso. A qualquer momento, eles podem ser soterrados", explicou a testemunha, que disse sentir a terra tremer a toda hora. "Talvez também seja apenas o meu corpo, estou em choque."
"Precisamos urgentemente de doações de sangue. Já pediram a todo mundo aqui para doar sangue porque o número de feridos aumenta a toda hora", descreveu. "Pediram para as pessoas aqui em Aleppo para que deixem suas casas, mas quase ninguém saiu. Não sabem para onde ir e também não têm dinheiro para ficar num hotel", disse.
Na Turquia, o governo declarou "nível de alarme 4", que pede por ajuda internacional. As baixas temperaturas e a neve na região, onde também há territórios montanhosos de difícil acesso, dificultam os trabalhos de resgate.
Vídeos publicados nas redes sociais mostraram prédios destruídos em várias cidades do sudeste do país. A emissora estatal RTR mostrou os trabalhos de resgate na província de Osmaniye, que correm contra o tempo em busca de sobreviventes nos escombros.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse estar em contato com as autoridades locais das regiões afetadas para se informar sobre a situação. "Espero que possamos superar esse desastre juntos o mais rápido possível e com o mínimo de danos", afirmou Erdogan em redes sociais.
Na Síria, em guerra civil há mais de uma década, as províncias mais atingidas foram Hama, Aleppo e Latakia. A zona devastada se divide entre o território controlado pelo regime de Damasco e o último enclave nas mãos da oposição, que está cercado por forças do governo, apoiadas pela Rússia.
"A situação é muito trágica, dezenas de prédios desabaram na cidade de Salqin", afirmou um integrante dos Capacetes Brancos, uma organização síria de resgate, em vídeo divulgado nas redes sociais. A cidade citada fica a cinco quilômetros da fronteira com a Turquia.
"Famílias inteiras estão soterradas e os Capacetes Brancos não conseguem chegar até elas. Faltam equipamentos para resgatar os sobreviventes em diferentes locais ao mesmo tempo", afirmou Omar Albam, repórter da DW na Síria. "No momento, não há nenhuma estimativa confiável sobre número de mortos. O caos domina tudo e ainda está confuso", contou.
Segundo Albam, a pequena cidade de Samada, a 30 quilômetros de Idlib e próxima da fronteira com a Turquia, foi uma das mais atingidas pelo sismo no país. A cidade teria sido completamente destruída pelo terremoto. Mas também a cidade de Jindires, a 20 quilômetros a sudoeste de Afrin, foi fortemente atingida, com danos severos às conexões de internet e celulares.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, realizou uma reunião de gabinete de emergência para avaliar os danos e discutir as medidas a serem adotadas.
A emissora estatal síria mostrou imagens de socorristas buscando por sobreviventes nos escombros em meio à chuva forte e granizo. Muitos prédios na região afetada já haviam sofrido danos devido à guerra civil no país que já dura quase 12 anos.